Henrique Gabriel: Onirismo e Magia
Utilizando com recorrência círculos concêntricos e outros elementos afins, nomeadamente espirais, além de linhas paralelas e linhas de água, que mistura com mestria em fulgorosos exercícios de luz, dando tratamento especial aos tons róseos, que faz sobressair com encantamento através de uma escrita rítmica cheia de ressonâncias calorosas, Henrique Gabriel aproveita-se do uso maciço de filas infinitas de colunatas e arcos de volta inteira da arquitectura românica numa intencional evocação do paraíso perdido da História, horizonte de ilusões próprio como fundo para o regresso dos cavaleiros medievais necessitados de procurar damas para salvar de inenarráveis tiranias.
Sugerindo com invulgar eficácia, através de pinceladas acertadamente concatenadas, castelos de sonho que se desfazem na bruma da memória em luares janeirianos do nosso descontentamento, à procura de Graais das nossas quimeras onde a fluência icónica servida por uma técnica segura consegue distrair-nos da sua qualidade intrínseca, - porque no nosso actual sistema de valores estéticos, a beleza visual e uma certa perfeição, em vez de serem motivo para salientar, acabam por criar repulsa, como se tal fosse uma maldição, - é fácil descobrir valores vários nesta pintura que vive muito da transparência da cor por meio da luz e da possibilidade unitária que a fragmentação de cristais bem delineados acaba por resultar eficiente por meio da sua contemplação conjunta.
As obras deste artista que alcançou uma técnica inusitada devido à sua origem profissional, - as artes gráficas, - fazem-nos sentir de várias formas uma sensibilidade muito ligada à terra, a que empresta um particular encanto ao representá-la sob um prisma cheio de onirismo e magia, uma espécie de paradoxo envolvendo ao mesmo tempo recordação e esquecimento, a maneira ideal para sugerir outras realidades para além do tangível, imersas dentro de um universo plástico profundamente pessoal.
A sua obra destaca-se, além disto, por um labor oficinal de grande rigor compositivo e uma factura a roçar a perfeição. As superfícies aparecem com impecáveis acabamentos e não há lugar ao histrionismo supérfluo. As sombras que sobrevivem ao peremptório esquecimento recordam texturas próximas do pastel. Não é em vão que o pintor faz não só da sua temática, mas também da sua técnica um recurso pouco comum, apresentando as suas obras uma pureza estranha e quase mística, inscritas dentro de um universo artístico rico e sugestivo.
Rodrigues Vaz
Utilizando com recorrência círculos concêntricos e outros elementos afins, nomeadamente espirais, além de linhas paralelas e linhas de água, que mistura com mestria em fulgorosos exercícios de luz, dando tratamento especial aos tons róseos, que faz sobressair com encantamento através de uma escrita rítmica cheia de ressonâncias calorosas, Henrique Gabriel aproveita-se do uso maciço de filas infinitas de colunatas e arcos de volta inteira da arquitectura românica numa intencional evocação do paraíso perdido da História, horizonte de ilusões próprio como fundo para o regresso dos cavaleiros medievais necessitados de procurar damas para salvar de inenarráveis tiranias.
Sugerindo com invulgar eficácia, através de pinceladas acertadamente concatenadas, castelos de sonho que se desfazem na bruma da memória em luares janeirianos do nosso descontentamento, à procura de Graais das nossas quimeras onde a fluência icónica servida por uma técnica segura consegue distrair-nos da sua qualidade intrínseca, - porque no nosso actual sistema de valores estéticos, a beleza visual e uma certa perfeição, em vez de serem motivo para salientar, acabam por criar repulsa, como se tal fosse uma maldição, - é fácil descobrir valores vários nesta pintura que vive muito da transparência da cor por meio da luz e da possibilidade unitária que a fragmentação de cristais bem delineados acaba por resultar eficiente por meio da sua contemplação conjunta.
As obras deste artista que alcançou uma técnica inusitada devido à sua origem profissional, - as artes gráficas, - fazem-nos sentir de várias formas uma sensibilidade muito ligada à terra, a que empresta um particular encanto ao representá-la sob um prisma cheio de onirismo e magia, uma espécie de paradoxo envolvendo ao mesmo tempo recordação e esquecimento, a maneira ideal para sugerir outras realidades para além do tangível, imersas dentro de um universo plástico profundamente pessoal.
A sua obra destaca-se, além disto, por um labor oficinal de grande rigor compositivo e uma factura a roçar a perfeição. As superfícies aparecem com impecáveis acabamentos e não há lugar ao histrionismo supérfluo. As sombras que sobrevivem ao peremptório esquecimento recordam texturas próximas do pastel. Não é em vão que o pintor faz não só da sua temática, mas também da sua técnica um recurso pouco comum, apresentando as suas obras uma pureza estranha e quase mística, inscritas dentro de um universo artístico rico e sugestivo.
Rodrigues Vaz
A demanda do Graal
Há no teu trabalho, e em ti, que mostrando-o te mostras, a procura mística de ocultações sugeridas e nunca reveladas. A demanda é o caminho, fantástico e iniciático, semeado de perigos e percalços, com o escopo nunca alcançado na chegada. Borboleta nocturna voando em círculos, atraída pela luz de um enigmático saber transcendental, humor inquieto, que se evola em volutas, arabescos, signos e símbolos perdidos na memória de tempos volvidos. Sugestões de campos lavrados aleatoriamente, o princípio da gravura nos vestígios da infância envoltos na bruma de uma aldeia perdida no tempo e no espaço.
Em ti coabitam o céu e a terra, a poesia e a prosa, o sonho e a vigília. D. Quixote e Sancho Pança, siameses umbilicalmente ligados, aliados e desavindos nas flamejantes cores aureoladas de sombra. As cores iridescentes brilham nos sulcos cinzelados, delimitam os campos da obra gráfica. Os tons da terra, o ritmo das ondas revoltas gravado nos destroços de navios em pedaços arrojados a praias desertas, salvados crisálida transmutados no arco-íris da borboleta perfeita.
Este trabalho de luta incessante entre telas e tintas na solidão de improvisado estúdio é a imagem do destino de Sísifo, que enganou a morte, mas caiu na eterna punição de recomeçar sempre o trabalho inacabado, vendo sempre por outros prismas e novas perspectivas a evanescente beleza pictográfica.
No teu percurso sobrepõem-se viagens interiores, barcos naufragados, corredores sombrios, infindos labirintos que confluem para secretas criptas. Em cada uma delas oculta-se o Graal, iluminado pela luz de eterna vela. O Graal é mutável, porque transcendente. Umas vezes é de ouro e pedrarias, outras de prata cinzelada, outras ainda de madeira toscamente talhada, porque como o camaleão se adapta a quem o procura. O teu, quando o encontrares ou imaginares que o encontraste, resplandece com todas as cores da tua paleta.
António Moreira
Há no teu trabalho, e em ti, que mostrando-o te mostras, a procura mística de ocultações sugeridas e nunca reveladas. A demanda é o caminho, fantástico e iniciático, semeado de perigos e percalços, com o escopo nunca alcançado na chegada. Borboleta nocturna voando em círculos, atraída pela luz de um enigmático saber transcendental, humor inquieto, que se evola em volutas, arabescos, signos e símbolos perdidos na memória de tempos volvidos. Sugestões de campos lavrados aleatoriamente, o princípio da gravura nos vestígios da infância envoltos na bruma de uma aldeia perdida no tempo e no espaço.
Em ti coabitam o céu e a terra, a poesia e a prosa, o sonho e a vigília. D. Quixote e Sancho Pança, siameses umbilicalmente ligados, aliados e desavindos nas flamejantes cores aureoladas de sombra. As cores iridescentes brilham nos sulcos cinzelados, delimitam os campos da obra gráfica. Os tons da terra, o ritmo das ondas revoltas gravado nos destroços de navios em pedaços arrojados a praias desertas, salvados crisálida transmutados no arco-íris da borboleta perfeita.
Este trabalho de luta incessante entre telas e tintas na solidão de improvisado estúdio é a imagem do destino de Sísifo, que enganou a morte, mas caiu na eterna punição de recomeçar sempre o trabalho inacabado, vendo sempre por outros prismas e novas perspectivas a evanescente beleza pictográfica.
No teu percurso sobrepõem-se viagens interiores, barcos naufragados, corredores sombrios, infindos labirintos que confluem para secretas criptas. Em cada uma delas oculta-se o Graal, iluminado pela luz de eterna vela. O Graal é mutável, porque transcendente. Umas vezes é de ouro e pedrarias, outras de prata cinzelada, outras ainda de madeira toscamente talhada, porque como o camaleão se adapta a quem o procura. O teu, quando o encontrares ou imaginares que o encontraste, resplandece com todas as cores da tua paleta.
António Moreira
O MAIS IMPORTANTE…
Foi certeiro Saint-Exupéry quando colocou, supõe-se que com bons modos, na boca do seu Principezinho que “o mais importante não se vê”.
Duvido que o aviador/escritor estivesse a pensar na pintura de Henrique Gabriel quando postulou a frase lapidar, apenas por pura incompatibilidade cronológica. Mas a associação entre aquela e esta atingiu-me em cheio no âmago por decalcar nos seus exactos contornos um sentimento que há muito procurava expressão e não encontrava vocábulos que lhe dessem sopro vital.
Parece anacrónico – sendo, como é, feérie visual a pintura de Henrique Gabriel, mesmo quando se embrenha audacioso pelos abismos cromáticos dos mais sombrios tons da paleta, despropositada se afigura a afirmação perante o intenso impacte estético da obra.
Mas não é. Porque é deliberada e sábia, na sua pintura, a transmutação dir-se-ia alquímica do prazer do visionamento pictórico em demandas de outros destinos mais exigentes, imateriais, outros territórios que transcendem os limites físicos da tela e da sua proposição meramente sensorial, levando a descobertas de encantamento em mundos quiméricos que se revelam discreta mas gradualmente a cada renovada investigação, ou a velhas interrogações milenares sem resposta dogmática à vista mas bordejadas de pistas subtis e enigmas estimulantes que, devidamente explorados, nos conduzem ao Conhecimento.
Ao alongar, com intenção, o olhar pela beleza intrigante das suas naus, por exemplo, mergulhamos nós também naquela névoa mística que as parece engolfar, elevando-as a um oceano etéreo feito de brumas, sonho e utopia e nelas rumamos àquelas ilhas secretas que o poeta cantou e onde o rei menino nos aguarda para nos iniciar nos mistérios da Portugalidade.
A mesma busca, a mesma viagem partilhamos com os seus peregrinos, figuras espectrais que parecem apressar-se a sair em passo estugado dos limites da pintura, embrenhando-se em longes e aléms que apenas se intuem nos horizontes sagazmente sugeridos, num convite hipnótico, irresistível a segui-los ao outro lado e com eles colher a flor impossível da iluminação.
Esse mais Além, onde o Conhecimento reside e nos ilude, é também sentido de forma intensa em tudo o que, sem se ver, se adivinha nos Claustros que Henrique Gabriel nos franqueia na sua pintura. O que vemos é apenas um vestíbulo, uma antecâmara onde se inicia um labirinto iniciático conducente à utopia. Quanto mais atentamos nas sombras que se abrem para aqueles arcos perfeitos maior a pulsão de o percorrer e colher o prémio que no final aguarda os ousados.
Mesmo a aparente inocência das suas bibliotecas, ultrapassada a análise inicial, revela a breve trecho o mesmo convite a ver para lá das lombadas e das capas, descartá-las como mera casca, decorativa mas inútil que nos separa da polpa e ir fundo na fruição dos sortilégios do saber que esses volumes resguardam, e mais além ainda nas páginas incontáveis de outras bibliotecas que só ultrapassando estas se descobrem e se alcançam. Não as vemos, mas estão lá.
Até o poético D.Quixote e o seu rotundo complemento directo Pança aludem a uma quimera que escapa ao escrutínio visual mas que é omnipresente – Quixote persegue um sonho que só ele vê, só ele sente, só ele conhece e por ele recusa a visão rasteira, imediata e prosaica que o mundo concreto lhe quer impor e parte, levando-nos consigo, para uma peregrinação ao domínio do intangível e do quimérico, massa primordial e origem de tudo o que é sublime.
Os exemplos, extraídos da várias fases da pintura de Henrique Gabriel, podiam continuar ad nauseam que o pressuposto manter-se-ia imutável – de facto, a arte e principalmente a sageza do Pintor estão esplendorosamente expressas não na beleza plástica da sua obra (que é incontestável) nem nos motivos que propõe mas no que, ocultando, nos leva a descobrir e, descobrindo, a partilhar com ele e com os outros – essa sábia capacidade de perceber o invisível que alguns optam a designar por fé mas a que prefiro chamar Alma. Lusitana, por sinal.
Carlos Paiva, 15 de Novembro de 2009
(...)
A luz e a Arte vivem num único tempo: ─passado-presente-futuro.
Os criadores afloram dimensões espaciais e temporais que lhes permitem aceder a passados que induzirão o que de futuro há-de ser.
As aquisições de hoje são possíveis por haver referentes anteriores ao presente de agora, que, decifráveis pelos criadores lhes possibilitam actualizar continuadamente o presente-futuro.
Os criadores são quem potencia sentir de modo mais marcante o olhar-táctil,o olhar-pensamento… Afinal, abarcar tudo o que em tudo se revela na realidade do acto de apreender e de possuir.
Só a Arte é capaz de insinuar o que é essencial e sensível …
É através da Arte que se evidencia o que de mais harmonioso há-de caber em todos os futuros do futuro.
— A luz que do futuro será, é a luz de hoje…Que é, afinal, a mesma luz de ontem…
Sempre a mesma luz a viajar!...
Luz que viaja eternamente por não ser possível a sua imobilidade.
Luz que traz até nós o que, no universo mais antigo, foi princípio. E que revelará continuadamente o que, hoje, de marcante houver. Por ser já futuro!...
Entre o ser de tudo e a apreensão dos múltiplos significados que cada ente comporta, a luz apazigua-se a viajar.
─ A Arte, como a luz, vive e viaja, continuamente, numa escala de um tempo universal, tornando-se eterna por transcender o acto criativo e o próprio criador.
A Arte vive num único tempo ─passado-presente-futuro ─, na totalidade do espaço que a luz habitou, que habita e que há-de habitar para sempre!...
Serve este texto poético como propósito de situar o Henrique Gabriel como criador. Pela Arte que produz, o Henrique Gabriel integra o rol dos que buscam luz em todas as coisas tocadas com o olhar-táctil e com o olhar-pensamento. A sua pintura reflecte a consciência que tem de tudo o que o(nos) rodeia, abarcando o que, no universo, é mais efémero ─ a matéria ; mas também pelo que, sendo intemporal nos objectos, dá vida ao que inerte sendo, mesmo amorfo, ganha espiritualidade. Só alguns observadores percebem que, para além dos contornos que delineiam os objectos materiais, há uma aura que os faz transbordar para um plano de existência mais transcendente. Ora isso transparece na pintura do Henrique Gabriel.
O que acaba de ser expresso, é por demais evidente nas temáticas que profusamente tem tratado ─ estou a pensar num vasto conjunto de trabalhos de desenho e pintura sobre “D. Quixote e Sancho Pança”, onde a natureza humana aparece retratada em todo o seu esplendor e miséria, bem como num grupo de obras relacionadas com “Os Caminhos de Santiago”. Em ambos os conjuntos de trabalhos, o que é humanamente material, cheio de qualidades e de virtudes, e, mais ainda de todos os defeitos, é acompanhado do que, sendo transcendente, nos remete para a esfera do divino.
Eis porque a pintura do Henrique Gabriel ultrapassa o tempo e não nos deixa ficar com o olhar e o pensamento parados. A sua pintura, por vezes, reflecte Humanas trevas… E outras tantas vezes revela Sois plenamente conquistados! (...)
Joaquim Carvalho
Paço de Arcos, 15 de Outubro de 2009
Cálice do eterno retorno
Começa por aí onde se encontram nas grandes rotas, os acenos mágicos dos avanços secretos, como um risco de ave no chão, essa asa que vai rompendo a superfície da alma.
Eis o caminho em direcção ao vento, a espada na cruzada interior, o mais velho labirinto da terra onde tudo se transforma no poema e no cálice sagrado.
Onde se vê reflectido o néctar que revela a respiração dos cristais.
Pintura com textura cavada do som oco, em eco, do rendilhado das grandes praças cravejadas dos cascos dos animais.
A gravação serena em direcção da luz solar ou dos feitos enluarados.
Pintura como extensão da viagem, a sombra que se estende, o poema que se estende, esse avanço de desejo vindo lá de dentro com exaltação das ferramentas de dedos ágeis e pincéis batuta, baqueta na voraz sensação dos tambores.
Sinfonia do Gabriel ou os anjos escondidos no pó dos caminhos, essa curvatura de verso espremido, fruto olhando a boca sedenta da procura, a eterna procura do grande movimento…
Falar de quê, do envolvimento cromático, da textura dilacerada pelo rasgar dos caminhos íngremes das esferas suspensas?
Da tinta a mais ou a menos com que de se esborrata um desenho construído a partir da vertigem de Cervantes, como asno ou cavalo transportando os sonhos do pão e do vento.
Armazenagem de uma certa forma de criar e que já está lá, jorrando da velha gruta brotando o leite com que se acalmam os vulcões.
Gabriel da paciência da lonjura, conforme se constrói uma montanha a partir de um só grão de areia na imensidão estelar dos afectos das marcas humanas.
Nas telas magnificas das cavernas que abraçam esta vida breve como um raio em noite de parideiras.
Falar de como se tricota uma pintura com palavras dedicadas de papiro á luz de um raio azul de cometa tímido?
Mas tudo tem a parecença com a velha poesia tentadora da verdade de cada um!
O espaço solitário da viagem. A noite conselheira de segredar ousadias, ao papel, ao pincel, á sinfonia surgindo na melodia vindo e ocupando tudo e sem pertencer a ninguém.
Explicar o fenómeno da fluidez da água até ao oceano?
Porque pintam os serem humanos os retalhos escondidos de cada um?
Porque teima o Henrique em tentar desnudar os pedaços da vida com véus-silhuetas, composições de ordens rebeldes, aglomerado de histórias que o tempo suga no presente constante?
A sua arte é um reflexo de eterno retorno como um cântico de baleia a querer comunicar com o infinito de um átomo existente no local mais profundo de um oceano…
Bebamos este cálice do sonho satisfeito do segredo.
Muito perto do “segredo”…
Eduardo Nascimento Setembro 09
Começa por aí onde se encontram nas grandes rotas, os acenos mágicos dos avanços secretos, como um risco de ave no chão, essa asa que vai rompendo a superfície da alma.
Eis o caminho em direcção ao vento, a espada na cruzada interior, o mais velho labirinto da terra onde tudo se transforma no poema e no cálice sagrado.
Onde se vê reflectido o néctar que revela a respiração dos cristais.
Pintura com textura cavada do som oco, em eco, do rendilhado das grandes praças cravejadas dos cascos dos animais.
A gravação serena em direcção da luz solar ou dos feitos enluarados.
Pintura como extensão da viagem, a sombra que se estende, o poema que se estende, esse avanço de desejo vindo lá de dentro com exaltação das ferramentas de dedos ágeis e pincéis batuta, baqueta na voraz sensação dos tambores.
Sinfonia do Gabriel ou os anjos escondidos no pó dos caminhos, essa curvatura de verso espremido, fruto olhando a boca sedenta da procura, a eterna procura do grande movimento…
Falar de quê, do envolvimento cromático, da textura dilacerada pelo rasgar dos caminhos íngremes das esferas suspensas?
Da tinta a mais ou a menos com que de se esborrata um desenho construído a partir da vertigem de Cervantes, como asno ou cavalo transportando os sonhos do pão e do vento.
Armazenagem de uma certa forma de criar e que já está lá, jorrando da velha gruta brotando o leite com que se acalmam os vulcões.
Gabriel da paciência da lonjura, conforme se constrói uma montanha a partir de um só grão de areia na imensidão estelar dos afectos das marcas humanas.
Nas telas magnificas das cavernas que abraçam esta vida breve como um raio em noite de parideiras.
Falar de como se tricota uma pintura com palavras dedicadas de papiro á luz de um raio azul de cometa tímido?
Mas tudo tem a parecença com a velha poesia tentadora da verdade de cada um!
O espaço solitário da viagem. A noite conselheira de segredar ousadias, ao papel, ao pincel, á sinfonia surgindo na melodia vindo e ocupando tudo e sem pertencer a ninguém.
Explicar o fenómeno da fluidez da água até ao oceano?
Porque pintam os serem humanos os retalhos escondidos de cada um?
Porque teima o Henrique em tentar desnudar os pedaços da vida com véus-silhuetas, composições de ordens rebeldes, aglomerado de histórias que o tempo suga no presente constante?
A sua arte é um reflexo de eterno retorno como um cântico de baleia a querer comunicar com o infinito de um átomo existente no local mais profundo de um oceano…
Bebamos este cálice do sonho satisfeito do segredo.
Muito perto do “segredo”…
Eduardo Nascimento Setembro 09
…Do Nome da Rosa
[…] Se, no experimentalismo pictural de Henrique Gabriel, o desenho perfeccionista – do design gráfico (passe o pleonasmo) – a visualização e a fotografia técnica e o registo sensorial e mental de momentos físicos, transpostos para uma geometria (in)temporal, são uma determinante valorativa, de pendor conceptualista e construtivista, subjacente à elaboração oficinal dos artefactos de culto que produz, numa acepção transversal à noção traditiva e convencional de «quadro», eles constituem, também (na minha óptica), um motivo merecedor de particularmente cuidada análise: porque não se trata de uma mera questão de habilidade manufactural, da qual decorra um “efeito agradável-à-vista”, um exercício estético vagante pro-“bom-gosto” mas, cumulativamente, de algo mais profundo do que apenas atractivo, quer em termos temáticos, quer no domínio matérico, textural e cromático-compositivo da pintura com que, meticulosamente, engendra e concretiza a sua arte. Da obra plástica de Henrique Gabriel – senão prematura, cronologicamente acelerada, por uma intensa maturação laboratorial – rescende um (in)determinavel odor alquímico, a magia, a carga do bruxedo ou dos feitiços, icónicosecultuais que, se por um lado, revelam estreitas relações parentais com a ascese do medievalismo pré-gótico e lendário da Demanda santa do Graal, se radica, por outro, na simbiose da natureza viva com a morfogénese ancestral dos relevos continentais, sob a ponte humana que se projecta da celestialidade cósmica, no caminho e nos trilhos (i)memoriais dos Templários e nas marcas pétreas monástico-cistercianas, semi-ocultas, indeléveis e enigmáticas, envoltas em indecifráveis mistérios, por entre os vales e montanhas por que se esgueiram os labirínticos percursos que vão dar a Santiago de Compostela e ao Cabo Finisterra (no fim-do-mundo antigo). A sua aproximação à essência duma abordagem poética de carga potencial e inspiração metafísica (mítica-e-mística), de conceptualidade plástica sensível e genuína, parece produzir – no que da sua virtualidade se releva – um sentido nocional enorme e profundo, na grandeza e dimensão críptica da sua verdade iniciática, assumindo-se como uma mensagem simbológica que atravessa e (re)escreve o Tempo, elevando-se a uma escala de valores icónicos e cromáticos que se conjugam em feéries de beleza e discursam contra o medo dos livros, da pesquisa científica e das revelações tardias… Por isso – assim traduzido em palavras textuais – o trabalho de Henrique Gabriel abre mais um oásis por entre a desértica morbidez abjeccionista que ameaça invadir as periferias da moda-indigente-mental e do pseudo-automatismo complacente que grassam neste interim contemporâneo de rupturas culturais, respirando a sonoridade dum hino de saúde e reabilitação …do Nome da Rosa. […]
JOSÉ-LUIS FERREIRA
Caramulo, 2008-03-12
[EXTRACTO CONDENSADO DE UM TEXTO-ENSAIO ORIGINAL]
Henrique Gabriel
La verdad es que no soy el idóneo para hablar de este personaje, y no lo soy porque no puedo ser imparcial. Y no soy imparcial porque le quiero desde el día que le conocí, por lo cual todo lo que hace me parece sublime, y seguramente lo es.
Mi primer encuentro con Henrique, sucedió en una frontera; la de los Pirineos, que separan Francia de España. Yo había salido tarde de Saint Jean Pied de Port, a donde había llegado acompañado de un amigo francés, con el cual había hecho el Camino, un par de años antes. Subía fatigosamente cuando no se me ocurrió otra cosa, que intentar un atajo. Uno de mis axiomas, es que cuando intentas un atajo, normalmente acabas perdido o al menos tardas bastante más que por el camino señalizado. Y así fue esta vez, volvía al camino que había dejado y al llegar al cruce del desvío, llegaba él. también fatigado. Era un día de Primavera muy húmedo, el cielo estaba encapotado y no había mucha visibilidad.
A primera vista, ya me pareció un asceta, un viejo peregrino. Enjuto, pelo largo y claro, cogido con una cinta, ojos muy vivos de un tono azulado brillante y risueño.
Era su primer Camino, por el contrario yo peregrinaba por tercera vez. Estábamos en el año 1997.
Nuestro encuentro nada casual, ya que estaba escrito en el Libro de la Amistad fue así:
.- ¡Hola peregrino! Me llamo Santiago y soy gallego
.- ¡Eu som Henrique y som Portugués!
.- ¿Caminhamos xuntos amigo?
.- ¡Caminhamos xuntos pues!
Y así fue, unidos después de muchas anécdotas y peripecias, llegamos a Santiago con una amistad ya rubricada para la eternidad
Por aquel Camino le dedique un pequeño poema que quiero adjuntar aquí:
“Amigo, quiero caminar contigo, por el Camino del Viento
Por el Camino del Sueño, por el Camino del Tiempo
No buscaremos atajos desvíos ni vericuetos
No buscaremos el final, ya que en él muere el sueño.”
“Caminaremos hacia el Sol poniente, sin volver la vista atrás
Lo que ha quedado ya no importa, sólo importa el más allá
No es la meta nuestro Horizonte, ya que la meta es el Final
Nuestro Horizonte es el principio, reanudar nuestro Eterno Caminar”
Según avanzábamos hacia El Campo de la Estrella, se fue mustiando su carácter, le impresionaba todo lo que veía, recuerdo ahora, la impresión que le causaron lugares tan emblemáticos como Santa María de Eunate, convento de San Antón, Santa María la Real de Nájera, Santa María la Blanca, y tantas otra, pero día a día se iba acentuando su melancolía. No por esto era menor su cariño, pero la tristeza es contagiosa y yo caminaba tan afligido como él. A veces se quedaba sólo:
.- Santi, voy a quedar un rato aquí, adelántate. Ya te alcanzaré
Y se quedaba en el Alto de Mostelares con vistas infinitas que trascendían a los valles del Pisuerga y del Odrila, y que dejaba atrás los tesos que los circundaba.
Yo me preguntaba:
.- ¿Qué le estará pasando a este hombre? Mientras veía como se afanaba en construir torres de piedras, con las abundantes rocas de la zona. Más tarde supe que era un homenaje a mi persona.
Intuía una transformación en su alma, que no entendí hasta pasado algún tiempo.
Algo estaba cambiando en su interior, lo estaba haciendo distinto. Seguía con su curiosidad innata de ver todo y preguntar incesantemente, pero su sonrisa que no desapareció nunca parecía empañada por un velo de amargura.
.- ¡Háblame de Fuego de San Antón Santi! ¡Como curaban los frailes esa enfermedad!
.- ¡No lo se muy bien Henrique, era una enfermedad de la Edad media que frecuentemente terminaba en gangrena, y había que amputar el miembro infectado! Los frailes de San Antón curaban esa enfermedad dicen que tocando la zona infectada con un báculo en forma de tau, no se mucho más, pero se cuenta que hubo numerosas cura milagrosas.
Del mismo modo se interesaba por todo lo sucedido en el Camino, y todo lo iba apuntando en su mente. Me di cuenta entonces que Henrique Gabriel de Castro Ferreira, sería para siempre peregrino.
Finalizamos el Camino. Amigos para la Eternidad.
Pasaron unos meses y un día me llama:
.- ¡Santi, voy para La Coruña!
Vino a casa con su esposa e hijo, y me traía un óleo, que hizo en mi honor, apoyándose en una fotografía. Su primer cuadro. Hoy ocupa un lugar preferente en el salón de mi casa. Entonces me di cuenta de su involución.
Henrique era publicista, un buen profesional. Por aquellos tiempos era un trabajador autónomo con varios empleados y trabajaba para la Expo de Lisboa. Le iba bien económica, social y familiarmente. Vivía bien.
Pero el Camino lo había atrapado, se había adueñado de su Alma. Le había pasado como a San Pablo cuando se cayó del caballo camino de Tarso. El también sufrió su revelación Camino de Santiago.
Y como Pizarro, quemó sus naves, y de dedicó a pintar. Empezó de nuevo en un Mundo difícil y a veces extravagante. Creo que perdió casi todo lo que tenía. Poco le importó, eran cosas mundana. El buscaba la Gloria, no para él, si no para divulgar El Amor al Camino.
Comenzó con exposiciones itinerantes del Camino. En esos años repitió el Camino en varias ocasiones, en una de ella fue a caballo hasta Compostela. La última vez que caminé con él, fue en Septiembre del 2008, que fuimos de Salamanca hasta Finisterre.
Lo vi, y eso me sucede cada ves que lo veo de nuevo, que lleva una metamorfosis de hombre a espíritu; cada vez es menos hombre y mas espíritu. Seguramente los que lo conozcan, no verán el cambio al verlo asiduamente, pero yo cada ves que lo veo siento que está más cerca del Cielo. Henrique no morirá. Se irá volando-
Este año en Octubre peregrine con mi esposa de Lisboa a Santiago. Henrique fue a esperarme. Cenamos en el Barrio Alto. Cuando nos llevaba al Campo de las Naciones, un conductor creo que algo ebrio, casi nos manda directamente al Cielo. Desde allí nos echaron una mano.
No sé de Arte, no voy a opinar técnicamente de su pintura. Mi gusto está en la sensibilidad que me produce la visión de algunos cuadros. Siempre admiré sobre todo al Greco y a Goya en sus aguafuertes. Para mi Henrique los supera.
Su Quijote, como él no es de este Mundo.
Pero Henrique le gana a Don Quijote a él no le hace falta Clavileño para volar.
Santiago Navarro La Coruña Noviembre 2009
......
La verdad es que no soy el idóneo para hablar de este personaje, y no lo soy porque no puedo ser imparcial. Y no soy imparcial porque le quiero desde el día que le conocí, por lo cual todo lo que hace me parece sublime, y seguramente lo es.
Mi primer encuentro con Henrique, sucedió en una frontera; la de los Pirineos, que separan Francia de España. Yo había salido tarde de Saint Jean Pied de Port, a donde había llegado acompañado de un amigo francés, con el cual había hecho el Camino, un par de años antes. Subía fatigosamente cuando no se me ocurrió otra cosa, que intentar un atajo. Uno de mis axiomas, es que cuando intentas un atajo, normalmente acabas perdido o al menos tardas bastante más que por el camino señalizado. Y así fue esta vez, volvía al camino que había dejado y al llegar al cruce del desvío, llegaba él. también fatigado. Era un día de Primavera muy húmedo, el cielo estaba encapotado y no había mucha visibilidad.
A primera vista, ya me pareció un asceta, un viejo peregrino. Enjuto, pelo largo y claro, cogido con una cinta, ojos muy vivos de un tono azulado brillante y risueño.
Era su primer Camino, por el contrario yo peregrinaba por tercera vez. Estábamos en el año 1997.
Nuestro encuentro nada casual, ya que estaba escrito en el Libro de la Amistad fue así:
.- ¡Hola peregrino! Me llamo Santiago y soy gallego
.- ¡Eu som Henrique y som Portugués!
.- ¿Caminhamos xuntos amigo?
.- ¡Caminhamos xuntos pues!
Y así fue, unidos después de muchas anécdotas y peripecias, llegamos a Santiago con una amistad ya rubricada para la eternidad
Por aquel Camino le dedique un pequeño poema que quiero adjuntar aquí:
“Amigo, quiero caminar contigo, por el Camino del Viento
Por el Camino del Sueño, por el Camino del Tiempo
No buscaremos atajos desvíos ni vericuetos
No buscaremos el final, ya que en él muere el sueño.”
“Caminaremos hacia el Sol poniente, sin volver la vista atrás
Lo que ha quedado ya no importa, sólo importa el más allá
No es la meta nuestro Horizonte, ya que la meta es el Final
Nuestro Horizonte es el principio, reanudar nuestro Eterno Caminar”
Según avanzábamos hacia El Campo de la Estrella, se fue mustiando su carácter, le impresionaba todo lo que veía, recuerdo ahora, la impresión que le causaron lugares tan emblemáticos como Santa María de Eunate, convento de San Antón, Santa María la Real de Nájera, Santa María la Blanca, y tantas otra, pero día a día se iba acentuando su melancolía. No por esto era menor su cariño, pero la tristeza es contagiosa y yo caminaba tan afligido como él. A veces se quedaba sólo:
.- Santi, voy a quedar un rato aquí, adelántate. Ya te alcanzaré
Y se quedaba en el Alto de Mostelares con vistas infinitas que trascendían a los valles del Pisuerga y del Odrila, y que dejaba atrás los tesos que los circundaba.
Yo me preguntaba:
.- ¿Qué le estará pasando a este hombre? Mientras veía como se afanaba en construir torres de piedras, con las abundantes rocas de la zona. Más tarde supe que era un homenaje a mi persona.
Intuía una transformación en su alma, que no entendí hasta pasado algún tiempo.
Algo estaba cambiando en su interior, lo estaba haciendo distinto. Seguía con su curiosidad innata de ver todo y preguntar incesantemente, pero su sonrisa que no desapareció nunca parecía empañada por un velo de amargura.
.- ¡Háblame de Fuego de San Antón Santi! ¡Como curaban los frailes esa enfermedad!
.- ¡No lo se muy bien Henrique, era una enfermedad de la Edad media que frecuentemente terminaba en gangrena, y había que amputar el miembro infectado! Los frailes de San Antón curaban esa enfermedad dicen que tocando la zona infectada con un báculo en forma de tau, no se mucho más, pero se cuenta que hubo numerosas cura milagrosas.
Del mismo modo se interesaba por todo lo sucedido en el Camino, y todo lo iba apuntando en su mente. Me di cuenta entonces que Henrique Gabriel de Castro Ferreira, sería para siempre peregrino.
Finalizamos el Camino. Amigos para la Eternidad.
Pasaron unos meses y un día me llama:
.- ¡Santi, voy para La Coruña!
Vino a casa con su esposa e hijo, y me traía un óleo, que hizo en mi honor, apoyándose en una fotografía. Su primer cuadro. Hoy ocupa un lugar preferente en el salón de mi casa. Entonces me di cuenta de su involución.
Henrique era publicista, un buen profesional. Por aquellos tiempos era un trabajador autónomo con varios empleados y trabajaba para la Expo de Lisboa. Le iba bien económica, social y familiarmente. Vivía bien.
Pero el Camino lo había atrapado, se había adueñado de su Alma. Le había pasado como a San Pablo cuando se cayó del caballo camino de Tarso. El también sufrió su revelación Camino de Santiago.
Y como Pizarro, quemó sus naves, y de dedicó a pintar. Empezó de nuevo en un Mundo difícil y a veces extravagante. Creo que perdió casi todo lo que tenía. Poco le importó, eran cosas mundana. El buscaba la Gloria, no para él, si no para divulgar El Amor al Camino.
Comenzó con exposiciones itinerantes del Camino. En esos años repitió el Camino en varias ocasiones, en una de ella fue a caballo hasta Compostela. La última vez que caminé con él, fue en Septiembre del 2008, que fuimos de Salamanca hasta Finisterre.
Lo vi, y eso me sucede cada ves que lo veo de nuevo, que lleva una metamorfosis de hombre a espíritu; cada vez es menos hombre y mas espíritu. Seguramente los que lo conozcan, no verán el cambio al verlo asiduamente, pero yo cada ves que lo veo siento que está más cerca del Cielo. Henrique no morirá. Se irá volando-
Este año en Octubre peregrine con mi esposa de Lisboa a Santiago. Henrique fue a esperarme. Cenamos en el Barrio Alto. Cuando nos llevaba al Campo de las Naciones, un conductor creo que algo ebrio, casi nos manda directamente al Cielo. Desde allí nos echaron una mano.
No sé de Arte, no voy a opinar técnicamente de su pintura. Mi gusto está en la sensibilidad que me produce la visión de algunos cuadros. Siempre admiré sobre todo al Greco y a Goya en sus aguafuertes. Para mi Henrique los supera.
Su Quijote, como él no es de este Mundo.
Pero Henrique le gana a Don Quijote a él no le hace falta Clavileño para volar.
Santiago Navarro La Coruña Noviembre 2009
......
(…) Na extensa jornada, que o acaso nos colocou frente à frente, no longínquo 1997, sob campo das estrelas, fomos, Henrique e eu, dois peregrinos, na expressão do Phil Cousineau, em A arte da peregrinação, em busca do sagrado. Do sagrado relicário de nossa alma. Nas paradas de hora em hora de nosso caminho diário, lá estava o Henrique a dar forma, em seu cajado, com um simples estilete, do semblante do apóstolo Santiago. Eu anotava meus sentimentos. Nas capelas, igrejas e catedrais, e em outros monumentos, ele procurava símbolos, sinais, formas misteriosas, que aos poucos, iam servindo para sua alquimia interior. Testemunhávamos , em silêncio, a compulsiva ânsia de alargar nossa consciência, de obter respostas às inquietações que se acirravam na dureza daquelas longas jornadas e de encontrar momentos de transcendência. Junto a nós, em ritmo diferente e, a certa distância, como a nos proteger em seu território, seguia o espanhol Santiago, veterano caminhante deste itinerário, em sua terceira edição. Ao final, as transformações desabrocharam no Henrique e ele pinta seu primeiro quadro, um retrato do imponente companheiro Santiago e lhe oferta, em La Coruña. Daí sucedem suas criações, grande parte influenciadas pelo mágico caminho que flui, a conta gotas, em sua arte, como em sua essência. Diria que seu ser é pródigo em expressão, tanto verbal quanto escrita, ampliada pelas suas cores e formas, algumas herméticas outras mais amplas, numa incessante procura de transcendência. (…)
Jaime Spricigo
Jaime Spricigo
Para o Henrique Gabriel,
peregrino da luz
Quantos caminhos se escondem nos caminhos percorridos?
Quantas portas por abrir nas portas já abertas?
Sob as arcadas de luz votiva, depositei o meu olhar peregrino,
até que as portas se abriram,
como um sol em viagem,
para a música dos caminhos.
Viajante sou de outras caminhadas,
mas hoje faço meu cajado
tua seta amarela de todas as cores.
Alex, 2005-05-17
Sobre Exposição "Caminho de Santiago"
Gostei de muito do que vi, e fico na expectativa dos (novos) caminhos que alguns trabalhos desta exposição já apontam.
peregrino da luz
Quantos caminhos se escondem nos caminhos percorridos?
Quantas portas por abrir nas portas já abertas?
Sob as arcadas de luz votiva, depositei o meu olhar peregrino,
até que as portas se abriram,
como um sol em viagem,
para a música dos caminhos.
Viajante sou de outras caminhadas,
mas hoje faço meu cajado
tua seta amarela de todas as cores.
Alex, 2005-05-17
Sobre Exposição "Caminho de Santiago"
Gostei de muito do que vi, e fico na expectativa dos (novos) caminhos que alguns trabalhos desta exposição já apontam.
Falando de Henrique Gabriel bem como da sua obra, sentimos uma vaga abstracta de bem estar psicológico a tocar-se-nos, como se de uma aura que o envolve se tratasse, passando de forma subtil ante os nossos olhos, incrédulos ao misticismo que serpenteia pela textura das suas obras.
Povoada por um universo de cores sólidas, que na mesma instância o são esbatidas e opacas, como se através dos olhos de outrém os víssemos, a sua obra salienta-se de forma notória pelos elementos multicor. Grande parte da sua carga esotérica apoia-se nesse factor. Pese embora o facto, o que à primeira vista brilha ante os nossos olhos é sem dúvida a textura das suas obras, resultando na criação de um relevo que as transporta para uma outra dimensão. Não só a sua obra é gráficamente sedutora, mas apela-nos ao toque, fazendo-nos sentir compelidos a senti-la para lá do universo gráfico.
Se em muitas ocasiões me inquiri acerca do porquê de formas tão simétricas e lineares em algumas das suas obras, obtive resposta no convivercom o seu criador. Da sua resposta provinham as formas exactas que por tantas vezes admirei. Sendo uma pessoa de carácter alegre e trato fácil, acreditamos na osmose da sua alegria interior, que apesar de o não ser de forma exuberante sob uma camada sensacionalista, está presente, com a beleza peremptória e aprazível da sua obra. Dei de caras com um aventureiro, o que me confirmou outra das minhas deambulações no seio da sua obra.
Por diversas vezes opinei acerca de uma certa influência da terra de Santiago de Compostela, mais precisamente do Caminho de Santiago (que o próprio fez de forma determinada e rigorosa). Não me espantou conhecer uma pessoa fora do comum, conhecimento que travo pontualmente, é de facto uma personagem original, característica espelhada na sua obra de forma singular, senhor de uma cultura acérrima, uma cultura de vida, toldada por experiências, sem a marca cerrada da teoria de uma cultura escolástica.
É quase tarefa sobre-humana avistar tendências e influências de outro pintor no seu trabalho. A fluidez com que elas são produzidas e a calma que nos transmitem, em tudo fazem lembrar Henrique Gabriel, aquela pessoa serena que fala com uma euforia de menino acerca das suas obras.
ÁlvaroMourão
Povoada por um universo de cores sólidas, que na mesma instância o são esbatidas e opacas, como se através dos olhos de outrém os víssemos, a sua obra salienta-se de forma notória pelos elementos multicor. Grande parte da sua carga esotérica apoia-se nesse factor. Pese embora o facto, o que à primeira vista brilha ante os nossos olhos é sem dúvida a textura das suas obras, resultando na criação de um relevo que as transporta para uma outra dimensão. Não só a sua obra é gráficamente sedutora, mas apela-nos ao toque, fazendo-nos sentir compelidos a senti-la para lá do universo gráfico.
Se em muitas ocasiões me inquiri acerca do porquê de formas tão simétricas e lineares em algumas das suas obras, obtive resposta no convivercom o seu criador. Da sua resposta provinham as formas exactas que por tantas vezes admirei. Sendo uma pessoa de carácter alegre e trato fácil, acreditamos na osmose da sua alegria interior, que apesar de o não ser de forma exuberante sob uma camada sensacionalista, está presente, com a beleza peremptória e aprazível da sua obra. Dei de caras com um aventureiro, o que me confirmou outra das minhas deambulações no seio da sua obra.
Por diversas vezes opinei acerca de uma certa influência da terra de Santiago de Compostela, mais precisamente do Caminho de Santiago (que o próprio fez de forma determinada e rigorosa). Não me espantou conhecer uma pessoa fora do comum, conhecimento que travo pontualmente, é de facto uma personagem original, característica espelhada na sua obra de forma singular, senhor de uma cultura acérrima, uma cultura de vida, toldada por experiências, sem a marca cerrada da teoria de uma cultura escolástica.
É quase tarefa sobre-humana avistar tendências e influências de outro pintor no seu trabalho. A fluidez com que elas são produzidas e a calma que nos transmitem, em tudo fazem lembrar Henrique Gabriel, aquela pessoa serena que fala com uma euforia de menino acerca das suas obras.
ÁlvaroMourão
Sobre a Pintura de Henrique Gabriel
“Não importa chegar – importante é o Caminho”
Como todas as viagens que importam, a de Henrique Gabriel através da sua pintura é de auto-descoberta. Não tanto de uma identidade pessoal, de importância relativa face à transcendência da obra, mas de uma identidade maior, quase suprema, plena de mistério e iniciação a que não são estranhos os mitos (ritos) ancestrais da Portugalidade e seus signos representativos.
Como todas as viagens que importam, a da pintura de H. Gabriel é uma viagem exigente, de fôlego, requerendo determinação e capacidade de orientação (interpretação?) através dos espaços raramente planos configurados, mas não delimitados, nas suas telas. As texturas e relevos constantes na obra, como os baixos relevos de antanho, complementam em sub-texto as emoções profundas da cor (usada com parcimónia), conferindo ao viajante uma leitura mais demorada, por vezes esclarecedora, outras vezes iniciática mas sempre surpreendente.
Como todas as viagens que importam, esta é uma viagem sem fim nem início – renova-se a cada olhar mais demorado e atento, tal como a contemplação de uma espiral (símbolo recorrente na obra de H. Gabriel) que nos conduz o olhar da periferia para o centro e dele novamente para o exterior em movimento perpétuo – a imagem perfeita da viagem de auto-conhecimento, constantemente relacionando o centro (o homem) com a periferia (o seu mundo) e vice-versa, numa interação e interdependência que alude com intenção explícita às palavras proféticas do Alquimista quando afirma que “o que está em cima é igual ao que está em baixo e o que está em baixo é igual ao que está em cima”.
Como todas as viagens que importam, esta é também uma peregrinação. Recusa o recurso fácil à linguagem mística, tão em voga, concentrando-se antes no Transcendente e no Espiritual, afinal o objectivo derradeiro de qualquer peregrinação interior: encontrar a grandeza do Homem (Português, neste caso) e a dimensão Divina da sua Alma.
H. Gabriel casa, com rara sagesa (como a História fez, antes dele) o Sagrado e o Profano, o Cristão e o Pagão e desse feliz casamento resulta, enfim, uma visão pictórica que poderia, sem esforço de opinião, ilustrar o Ideal Messiânico Português uma vez expurgado de todo o folclore.
A pintura de H. Gabriel é, afinal, uma viagem que importa.
Carlos Paiva, Junho de 2002
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ABRIU OS BRAÇOS O ANJO
GABRIEL A FÉ REFLECTE
A LUZ DO SOLENE ARRANJO
ACORDE QUE SE REPETE
TELA CAMPO CÉU E MAR
CÁLICE DO OIRO TEMPLÁRIO
ATRAVÉS DO TEU OLHAR
DESENHAS O TEU SACRÁRIO
PROFUNDO O SACRO ALÉM
PARA LÁ DO TEU SONHAR
DESCOBRES QUE O MAL E O BEM
SÃO GÉMEOS NO SINGULAR
NESSAS VIAGENS DO PLANO
ONDE REGISTAS A COR
O TEU TRAÇO É SEMPRE HUMANO
A TEXTURA É SEMPRE AMOR
TECES BORDADOS DE FÉ
EM CATEDRAIS DE BELEZA
ERGUES O SONHO E DE PÉ
AFIRMAS A INCERTEZA
PERGUNTAS AOS TEUS SILÊNCIOS
SOBRE A COR PROFUNDA E DENSA
SE OS DIAS SÃO COMO INSENÇOS
VOLÁTEIS NA HORA IMENSA
SANTIAGO CAMINHEIRO
COMPOSTELA HENRIQUE AUTOR
D.QUIXOTE AVENTUREIRO
GABRIEL O SONHADOR
ASSIM RESTA AGRADECER
O TEU DESTINO INSPIRADO
E A TI POR TODO O SABER
AMIGO...MUITO BRIGADO
Ao Henrique dediquei este singelo e verdadeiro
elogio á sua obra no dia 1 de Agosto de 2009
em Vila Verde de Ficalho, como seu admirador
e amigo á sua disposição.
Joaquim Caeiro
ABRIU OS BRAÇOS O ANJO
GABRIEL A FÉ REFLECTE
A LUZ DO SOLENE ARRANJO
ACORDE QUE SE REPETE
TELA CAMPO CÉU E MAR
CÁLICE DO OIRO TEMPLÁRIO
ATRAVÉS DO TEU OLHAR
DESENHAS O TEU SACRÁRIO
PROFUNDO O SACRO ALÉM
PARA LÁ DO TEU SONHAR
DESCOBRES QUE O MAL E O BEM
SÃO GÉMEOS NO SINGULAR
NESSAS VIAGENS DO PLANO
ONDE REGISTAS A COR
O TEU TRAÇO É SEMPRE HUMANO
A TEXTURA É SEMPRE AMOR
TECES BORDADOS DE FÉ
EM CATEDRAIS DE BELEZA
ERGUES O SONHO E DE PÉ
AFIRMAS A INCERTEZA
PERGUNTAS AOS TEUS SILÊNCIOS
SOBRE A COR PROFUNDA E DENSA
SE OS DIAS SÃO COMO INSENÇOS
VOLÁTEIS NA HORA IMENSA
SANTIAGO CAMINHEIRO
COMPOSTELA HENRIQUE AUTOR
D.QUIXOTE AVENTUREIRO
GABRIEL O SONHADOR
ASSIM RESTA AGRADECER
O TEU DESTINO INSPIRADO
E A TI POR TODO O SABER
AMIGO...MUITO BRIGADO
Ao Henrique dediquei este singelo e verdadeiro
elogio á sua obra no dia 1 de Agosto de 2009
em Vila Verde de Ficalho, como seu admirador
e amigo á sua disposição.
Joaquim Caeiro